O adolescente se defronta com intensas mudanças corporais, sinalizadas por diversos autores: o corpo de criança se transforma em um corpo de adulto, com formas delineadas. Contudo, Pinheiro (2001) aponta uma consequência sutil dessas mudanças que consiste no fato de que o corpo que entra na vida adulta é também um corpo que vai envelhecer. Portanto, a entrada na adolescência e, com isso, na sexualidade genital, comporta essa dupla vertente, a qual Pinheiro denomina como a “dor e a delícia” desse processo: há a possibilidade de exercer a sexualidade genital, mas há a constatação de que o corpo do adulto não vai mais crescer, mas sim envelhecer; o adolescente se depara com sua própria finitude.
Lidar com a perda, com a ideia de que somos mortais e que, a partir daí, o corpo entrará num processo de envelhecimento, é lidar com a castração. Convém apontar que estamos lidando com aspectos inconscientes do adolescente e, por isso, o que aparece para nós é aquele sujeito que se mostra como infalível, mas que é, sabemos, atravessado pela questão da castração, da lei, da interdição.
O narcisismo coloca-se, segundo Pinheiro (2001), como uma revolta à castração – frente ao desamparo e à fragilidade, o adolescente lança mão da onipotência e de verdades absolutas, que, de acordo com a autora, seriam características da melancolia. A tristeza, o luto e a solidão também se encontram presentes na problemática adolescente. A autora afirma que é necessário erigir modelos para ser possível a identificação, num momento em que as identificações egoicas parecem frágeis. Sobre essa intensa exigência narcísica que se dá na adolescência, Emmanuelli (2008) destaca que essa ocorre tanto no sentido de uma inflação narcísica, quanto de uma desvalorização, característica essa percebida fenomenologicamente através das alterações bruscas de humor comuns no adolescente.
Palmeira e col. (2006) apontam que a imagem de si está em construção na adolescência e é apoiada muito pelo olhar do outro, e não somente pela percepção do adolescente de suas mudanças corporais; é a partir do laço com o outro que a estranheza desse corpo modificado será sentida pelo adolescente. Sublinha-se a importância da presença do outro nesse momento, que poderá, ao mesmo tempo, ser fonte de ansiedade, propiciada pelo retorno de fantasias inconscientes, como também esse outro poderá auxiliar o adolescente no processo de remanejamento identificatório.
Referências bibliográficas
EMMANUELLI, M. A clínica da adolescência. In: REZENDE CARDOSO, M.; MARTY, F. (Org.). Destinos da adolescência. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
PALMEIRA, C. et al. Desamparo e melancolia na adolescência contemporânea. In: REZENDE CARDOSO, M. (Org.); Colab. Helena Aguiar et al. Adolescentes. São Paulo: Escuta, 2006.
PINHEIRO, T. Narcisismo, sexualidade e morte. In: REZENDE CARDOSO, M. (Org.). Adolescência: reflexões psicanalíticas. Rio de Janeiro: NAU Editora: FAPERJ, 2001.