Para Winnicott, a tendência anti-social é uma agressividade reativa a uma falha ambiental, um pedido de socorro – a criança testa o ambiente para ver se ele sobrevive às suas ações. As crianças com tendência anti-social puderam realizar certa integração egóica e o processo de adaptação à realidade – que são bases para a saúde, não psicótica –; contudo, sofreram uma falha grave, uma “deprivação”, na fase de dependência relativa. Neste período, que é quando a mãe começa a falhar gradualmente, frustrando aos poucos o bebê, é também quando este começa a demonstrar uma intenção agressiva. Entretanto, se o ambiente não for suficientemente bom, a agressividade terá um caráter de violência e destrutividade – e não será positiva e proveitosa, como pensava Winnicott com pessoas saudáveis.
A criança, portanto, sabe que o ambiente falhou e dirige o sintoma para fora, cobrando algo do ambiente – quando os pais não percebem esse demanda, a criança dirige a outras instâncias, como a escola, por exemplo, ou, em casos extremos, pode chegar à polícia. Winnicott vê, então, na tendência anti-social um pedido de socorro – o ataque ao outro é a esperança de que algo mude e só mudará quando esse sujeito for reconhecido, através de um holding adequado, através do estabelecimento de uma relação de confiança, no caso da clínica, por exemplo.
O Transtorno de Déficit de Atenção, com ou sem hiperatividade (TDA/H), segundo o saber médico, é um transtorno caracterizado por “comportamento hiperativo e inquietude motora, desatenção marcante, falta de envolvimento persistente nas tarefas e impulsividade” (LIMA, 2005, p. 73). Essas características só serão definidoras do transtorno quando aparecem em um grau excessivo, ao serem comparadas com um desempenho esperado de outras pessoas, com a mesma idade.
O debate atual sobre o TDA/H tem gerado diversas abordagens que tentam entender o aumento significativo do número de diagnósticos e do consumo de medicamentos, em especial a Ritalina (metilfenidato), como um dos principais tratamentos. Entendemos que, para analisar esse fenômeno e suas conseqüências nos discursos científico e leigo, devemos levar em conta as influências do contexto psicossocial, cultural, político e econômico em que ele se insere – e não se restringir a explicar os fenômenos apenas numa perspectiva fisicalista.
Consideramos fundamental analisar, do ponto de vista psicanalítico, a dinâmica familiar em que a criança está inserida, uma vez que a forma de uma criança se expressar é por meio do desempenho escolar, comportamental e até físico. A criança, na maioria das vezes, não expressa em palavras se algo não vai bem com ela, mas sim gera sintomas – exemplos deles seriam a desatenção e a hiperatividade, tão presentes na queixa de pais na atualidade. Portanto, pode ser que esses sintomas sejam uma forma de a criança comunicar que algo não vai bem com ela. É necessário que seja feita, contudo, uma avaliação conjunta de médico e/ou psicólogo para um diagnóstico preciso de cada caso.
Investigar como são travadas as relações da criança com sua mãe, seu pai e eventualmente com irmãos é fundamental para avaliar esse tipo de queixa, que geralmente vem através das escolas.
Além da análise do contexto familiar, não se deve deixar de considerar como funciona o ambiente escolar em que a criança está e como este poderia ser adaptado para atender às necessidades da criança.
Referência bibliográfica:
LIMA, Rossano Cabral. Somos todos desatentos?: o TDA/H e a construção de bioidentidades. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.