Melancolia

Pensando a melancolia numa vertente histórica, Carvalho da Silva (1998) nos diz que a melancolia é uma enfermidade que atormenta a humanidade há muitos séculos. Na primeira modernidade, o termo “melancolia” tanto podia designar uma patologia, quanto o humor bile negra ou uma compleição, ou melhor, para denominar aquele que está no limite da saúde. Os melancólicos seriam, para os estudiosos dessa época, indivíduos frios e secos com um comportamento marcado pela tristeza e temor.

melancolia

No século XX, Freud (1917) escreve o texto Luto e melancolia, no qual compara o processo patológico da melancolia com o afeto normal de luto. O luto, segundo Freud, é uma reação à perda de alguém querido, sendo que, em algumas pessoas, pode ser despertada a melancolia em vez do luto. Não se considera o luto uma patologia, pois se espera que esse estado tão distante da normalidade se dissipe com o tempo. No luto, há um trabalho, através do teste de realidade, quando se percebe que o objeto amado não existe mais, exigindo que a libido seja retirada das ligações com aquele objeto.

Jean Laplanche (1987), comentando o texto Luto e melancolia (FREUD, 1917), afirma que Freud considera a melancolia como um quadro psicopatológico de psicose que, muitas vezes, se alterna com um estado maníaco, no que se conhece como psicose maníaco-depressiva – atualmente denominado, no campo da psiquiatria, por Transtorno Bipolar do Humor. O campo das depressões é complexo, segundo Laplanche, pois se tem o luto ligado à perda do objeto, a depressão ligada a um sentimento de inferioridade e a depressão ligada a um sentimento de culpabilidade, que neste caso se caracteriza como melancolia. Freud aponta como características da melancolia o desânimo e a diminuição da auto-estima, o que pode chegar à auto-recriminação e culminar em um delírio de punição.

Referências bibliográficas:

CARVALHO DA SILVA, P. J. Um sonho frio e seco: considerações sobre a melancolia. In: Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 1, n. 1 (1998), p. 286-297. São Paulo: Editora Escuta, 1998.

FREUD, S. Luto e Melancolia (1917 [1915]). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Vol. XIV.

LAPLANCHE, J. Problemáticas I: A angústia. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p. 287-345.